quarta-feira, 24 de abril de 2013

"If I lay here"

(publicado originalmente em março/2009)

Era madrugada, chovia. Os dois sozinhos no andar de cima da casa grande, deitados no colchão coberto por um lençol laranja que contrastava com a cortina verde. Ela não parava de falar e ele ouvia admirado.

Ela levantou num pulo:
- Vamos fugir daqui!
- Fugir pra onde? Tá chovendo.
- E daí? Vamo tomar chuva.

Ele riu. Nem levou a sério. Fez um gesto com a cabeça que dizia "volta pro meu colo". Eram quase três da manhã e ela não queria deitar de novo. Estava sem sono, estava entediada; ela era assim. Começou a trocar de roupa.

- Ei. Onde você vai?
- Vou sair, vou pra europa! Vou pra rua, ver estrelas, tomar chuva.
- Não tem estrelas quando tá chovendo...

Ela fez que não ouviu e desceu as escadas curvas. Abriu a porta e saiu correndo de braços abertos. Louca!

Ele foi atrás, se perguntando o tempo todo o que raios estava fazendo ali. Pensando na gripe que ia pegar, no quanto aquela muher era problema, que tinha que acordar cedo no outro dia... Mas balançou a cabeça de novo (ele sempre balançava a cabeça pra economizar palavras): "já estou aqui mesmo" - pensou. Correu até alcançá-la. Ela já havia parado de correr. Estava só andando e pensando e falando alto.

- Sabe, a gente pode ir pra onde a gente quiser. E se a gente fosse pra Fiji?

Ele, encharcado, tomou fôlego pra responder mas não conseguiu, ela não deixou.

- A gente pode fazer o que a gente quiser, eu e você. A gente não precisa de mais nada nem de mais ninguém. Tá, eu sei que você tá pensando que as coisas não são fáceis assim e bla bla blá, mas são!

Ela sorriu. Antes que ele pudesse articular qualquer palavra ela correu e o beijou. O beijo deles era único. Ele havia sido o primeiro beijo dela. Anos depois, já haviam se encontrado e desencontrado inúmeras vezes - agora, ambos com vinte e poucos anos, ele era um adulto e ela havia se recusado a crescer, mas o beijo ainda era igual.

Ela se sentou no chão; ficou olhando pra cima, pra ele, esperando ele se sentar também.
Sempre que estavam juntos ele se sentia irreconhecível; fazia coisas que ele sabia que jamais faria normalmente- assim, meio contrariado meio não. Parte dele gostava. Mas parte dele sabia que ela ia embora de novo. Ela sempre ia. E essa de aproveitar o momento não era com ele, sabe? Porque o que ele queria mesmo é que ela ficasse pra sempre e o tal momento não fosse tão curto. Sentou-se ao lado dela no meio da rua, debaixo da chuva. Estavam molhados até os ossos.

Ela parecia pensativa.
Ele nunca soube que ela também queria ficar pra sempre. Ela disse:

- Se eu deitar aqui você deita comigo? E a gente esquece o mundo por um minuto, e finge que só existe nós dois.

Ela não sabia dizer o que sentia, nunca soube. Ainda mais ali. Tudo o que ela conseguia ver naquela hora eram os olhos dele, lindos, abaixo da franja molhada de chuva. Ela era complicada demais, ela tinha medos demais. Mas ela sabia. Ela sabia que ele era o tesouro dela pra sempre. E ela sabia que o que eles tinham nunca iria mudar.

Então ela pediu de novo: "Anda, deita comigo."
E se deitaram no asfalto molhado de uma rua deserta qualquer, às três da manhã.

Aquele momento foi eterno.

6 comentários:

PR disse...

posso chorar, mesmo sendo homem, por esse texto? senti vontade de espalhar pro mundo esse texto. acho que sou sinestesico, consegui escutar o barulho da chuva, como tv quando fica fora do ar. e o cheirinho do vento molhado(já sentiste esse cheiro em dia de chuva?).
eu vou salvar isso pra mim, eu posso?
ah, e foi engraçado que bem na hora que eu pensei "po a internet tá lenta" junto com "preciso responder os comentários da anna" tu comentaste no meu blog, o que foi um atalho para chegar aqui e me alimentar com tantas e tão belas de tuas palavras.
GRANDE abraço, e palmas, é mais que merecedora. :*

:: rita :: disse...

para o PR...> homem tambem chora!!! é bacana isso! =D


.

pra você: pois eh, sobre ser perola e musica do chico: sim, eu sabia! ate pensei em ter uma filha Perola! mas naum tenho filhos ainda!(...) sabe? minha mãe tambem é Rita!!
dai é: maria rita e rita de cascia
la em casa: chega alguém: rita?!!
_qual das duas?
hehehehe!

sobre "a rita levar sorrisos"
penso que já levei sim! tambem levaram o meu! =/ uma pensa ser assim neh?!

ah, agora eu vou ser rita na sua vida! pra te trazer sorriso... pode?
...

beijinho moça, que lembra pão de queijo pq mora em minas! (bobeira neh? kkkk)

Maiara Zortéa disse...

eu nunca deitei com o navarro na chuva, mas o resto bate.
hehe
então, quando é que a gente vai tocar umas campanhias e uns interfones?hehe

tô esperando!!!!

e brigadão por vir aqui, nunca me senti tão bem!=D
bjonasuabixiga!

Igoarias disse...

Gostei muito do seu blog, escreve com uma simplicidade que me encanta, voltarei aqui mais vezes e aguardo visitas sua, abraços fortes.

Anônimo disse...

Anna (:
desculpa a minha enorme demora pra responder, mas é o trabalho ta tomando todo o meu tempo (eu temia que isso acontecesse) obrigada pelo comentário, mesmo que pra você ele não tenha sido inspirado, te entendo afinal não é todas as 24 horas do dia que ficamos inspirados.
Eu amei isso que você escreveu, seria muito estranho se eu dissesse que ja sonhei com isso? Também não seria estranho se eu dissesse que muitas vezes ja quis fazer isso, né?
de uma coisa tenha certeza o seu post me arrancou sorisos, suspiros, pensamentos e alumas lagrimas que pro ventura ficaram escondidas nos olhos.

beijos xará :*

Anônimo disse...

ahh ia me esquecendo, adorei o weheartit, fiz um pra mim e te adicionei.

você acertou direitinho haha