Vestida em roupas velhas, em pé naquele chão forrado com jornal, lembrou-se de quando era ainda menina, e levava bronca da mãe pelos risquinhos de caneta na parede do quarto; é que ela queria saber todos os dias se tinha crescido mais... coisa de criança.
Anos depois, diante da parede branca pronta pra ganhar cor, pensou em quanto tempo fazia desde que se importou com seu tamanho e em todos os apelidos românticos e maldosos que, em sua infância/aborrescência, ele lhe rendera.
Eram 14:28h (estava de folga aquela tarde). Pegou uma caneta e uma fita métrica e olhou ao redor pra certificar-se de que ninguém a observava. Parou, costas encostadas na parede. Riu ao se lembrar que, quando criança, levantava os pés de leve numa tentativa de enganar à ela mesma e subir o risquinho da parede alguns milímetros.
Mediu.
'Hm, um metro e sessenta e cinco centímetros. Nada mal.' - pensou.
Ligou o rádio no último volume com as mesmas músicas de sempre, mergulhou o rolo na tinta que ela chamava de azul-céu e - às 15:31 - começou a refazer as paredes dos seus sonhos, cantando alto, errado, e sem se importar com mais nada.
▪ Num espaço de três minutos - I