sábado, 10 de julho de 2010

Num espaço de três minutos - III

Eram 16:13 de um domingo frio e não havia nuvens no céu. Ela usava um cachecol vermelho, que parecia ser a única coisa carregada de cor naquela tarde cinza. Havia a xícara de café, metade vazia; havia o esmalte negro, já metade roído; havia o cinzeiro com metade de um cigarro ainda queimando. Nada era completo. Nunca mais seria.

As pessoas passavam pra lá e pra cá ao lado da janela do café, andando sempre muito depressa. Ela inclinava a cabeça para trás, numa tentativa sabidamente tola de fazer as quase-lágrimas voltarem para dentro dos olhos. Não funcionava.

A outra se levantou de cabeça baixa, pensou em pousar a mão sobre a dela, mas achou melhor não. Se virou devagar e com um certo pesar na face, como quem sabia a dimensão da ferida que causava e pedia perdão com o olhar; se afastou, e - às 16:16 - deixou-a só, com o silêncio e a cadeira vazia a sua frente.


▪ Num espaço de três minutos - I
▪ Num espaço de três minutos - II


(E, sim, voltei. [...] Acho.)