terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Num espaço de três minutos - II

Vestida em roupas velhas, em pé naquele chão forrado com jornal, lembrou-se de quando era ainda menina, e levava bronca da mãe pelos risquinhos de caneta na parede do quarto; é que ela queria saber todos os dias se tinha crescido mais... coisa de criança.

Anos depois, diante da parede branca pronta pra ganhar cor, pensou em quanto tempo fazia desde que se importou com seu tamanho e em todos os apelidos românticos e maldosos que, em sua infância/aborrescência, ele lhe rendera.

Eram 14:28h (estava de folga aquela tarde). Pegou uma caneta e uma fita métrica e olhou ao redor pra certificar-se de que ninguém a observava. Parou, costas encostadas na parede. Riu ao se lembrar que, quando criança, levantava os pés de leve numa tentativa de enganar à ela mesma e subir o risquinho da parede alguns milímetros.

Mediu. 'Hm, um metro e sessenta e cinco centímetros. Nada mal.' - pensou.

Ligou o rádio no último volume com as mesmas músicas de sempre, mergulhou o rolo na tinta que ela chamava de azul-céu e - às 15:31 - começou a refazer as paredes dos seus sonhos, cantando alto, errado, e sem se importar com mais nada.



▪ Num espaço de três minutos - I

7 comentários:

bel. disse...

adorei o teu jeito de escrever. tu é doce, docinha, mas bem consistente. vou continuar a leitura!

(via blogueiros fracassados, pra tu entender).

beijos!

Ivson Olivera disse...

Bastante interessante (li a parte I). Gosto de narrativas com profundas viagens no interior do personagem, mais que na história e na seqüência dos fatos em si, e em que detalhes (como minutos e segundos) ganham uma importância incomum.

Já escrevi algo assim, mas ninguém gostou muito. Acho que me falta talento, o que não parece ser seu caso.

Abç

Thiago Hernandez disse...

Pintar parede, refazer sonhos, renovar a mente... Sensacional!

Muito bom!

Márcio Viana disse...

Obrigado pelas palavras amáveis! Vou linkar teu blog lá também.

Ingrid disse...

Ah! Adorei as tatuagens e o post sobre elas. E sobre K. Halsey, o que dizer? Magnífico. Já fui mais alucinada por ele, queria todas as imagens, hoje gosto de me surpreender ao revê-las.
E este post: bonito, nunca paramos de crescer! continua a se medir ;)

Ivson Olivera disse...

Só falta me dizer que além de boa escritora conhece Pernambuco? Sou de Igarassu (30 km de Recife, cidade histórica) mas estudo em Recife (já há vários anos)e a maioria dos meus amigos é de lá.

Nathália E. disse...

Eu desenhava nas paredes da casa.
Da casa recém-pintada, pra ser mais exata.
"Desenhar". Aquilo tava mais pra rabisco.

Saudade. =/